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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Mulheres e a depressão...








Durante o ciclo de uma hora percorrido pelo ponteiro do relógio, dez pessoas precisaram pedir afastamento do trabalho para tratar depressão, síndrome do pânico e outros transtornos de humor. Os 83.209 casos registrados entre janeiro e novembro de 2009 no País não são separados por sexo, mas os especialistas atestam que o problema, em maioria, é feminino.
Pesquisas já mostraram que mulheres aparecem até duas vezes mais do que os homens nas estatísticas (informações da Associação Brasileira de Psiquiatria) e um dos motivos é que elas são mais vítimas dos dois vilões depressivos: o estresse e ansiedade. Segundo dados já divulgados em um levantamento feito pela seguradora de saúde SulAmérica, no sexo femino 51% são estressadas contra índice de 28% na parcela masculina. “Além do estresse, as mulheres são mais vulneráveis por questões químicas mesmo”, afirma o psiquiatra Ricardo Moreno, membro da ABP e diretor do Grupo de Estudos de Doenças Afetivas do Hospital das Clínicas de São Paulo. “Os hormônios, presentes desde a infância até a época da menopausa, são influentes nas manifestações depressivas”. Democrática, a depressão não escolhe classe social antes de bater à porta. Pode trazer seus impactos tanto na vida profissional da maior executiva da empresa quanto da funcionária encarregada pela faxina. Isso porque, em especial no recorte feminino, a depressão não é despertada pelo cargo exercido. Segundo os especialistas, o “gatilho” do problema em geral é o acúmulo de funções sociais e empregatícias. A dupla jornada, é sabido, está em todos os lares. De acordo com Moreno, a influência dos transtornos de humor e depressão no emprego é total porque, além da tristeza, melancolia, falta de ânimo, é uma “síndrome que acarreta dificuldade para pensar e raciocinar. Influencia também na concentração e no raciocínio, agravada pelas possíveis alterações do sono e do apetite”, informa o médico. O rendimento é comprometido e o que só parece tristeza, na verdade, funciona como um bloqueio sólido da execução de tarefas. Apesar do ano de 2009 ter colecionado 252 casos diários de afastamentos para tratar depressão e outros transtornos de humor, o cenário é de diminuição de registros. Na comparação com o ano de 2008 (94.887 casos) a redução de casos é de 14%. Um dos motivos para o declínio, acreditam os especialistas, é a melhora do acesso aos tratamentos psíquicos e também medicamentos para os problemas de saúde. Dados da indústria farmacêutica apontam aumento de 44% das vendas de antidepressivos e ansiolíticos nos últimos quatro anos, com movimentação estimada de R$ 977 milhões anuais. Além do setor privado, o Sistema Único de Saúde (SUS) também tem aumentado a oferta de remédios desta classe terapêutica. Em 1999, o Ministério da Saúde fornecia seis tipos de medicamentos desta linha e, em 2008, a quantidade aumentou para 14. A Furp – fabricante paulista de remédios – aumentou em 3,4% a distribuição de antidepressivos. Ainda que os especialistas brindem a melhor oferta de ferramentas para amenizar os danos acarretados pela depressão, todos são unânimes ao ressaltar um efeito colateral da venda crescente das pílulas: o mau uso. Levantamento do Centro Brasileiro de Informações Sobre Dorgas Psicotrópicas, feito com 10.919 receitas de um popular antidepressivo, confirmou o uso irregular. Metade dos receituários era associado a outras drogas, todas com foco em emagrecer. O uso estético da medicação psiquiátrica é equivocado e, além de dependência, pode trazer outros efeitos coletarais graves, como taquicardia. A banaliazação do uso dos antidepressivos também foi mapeada pelo professor de ciências farmacêuticas da Universidade Federal de Goiás, Reginaldo Mendonça. Ele acompanhou por dois anos 23 usuárias destes remédios e atestou que elas buscam nas pílulas formas de amenizar conflitos familiares. “O uso medicamento, quando necessário, não é um problema”, afirma Mendonça. “A questão é que na maior parte das vezes esse uso é feito sem um acompanhamento próximo do especialista (psiquiatra ou psicólogo) e sem diálogo. A medicação, portanto, torna-se a única forma que a mulher encontra para conviver com o problema e não resolvê-lo”, completa ao citar um exemplo. “A mulher busca ajuda do antidepressivo porque estava nervosa demais, sendo muito agressiva com os filhos e marido. O pano de fundo do nervosismo, exemplifica o pesquisador era um casamento complicado, sem conversa e parceria.
“Se ela só tomar o remédio, sem o suporte de uma terapia ou acompanhamento, a paciente só vai ficar mais calma e não reagir pela mudança. Ela não ataca a raiz do problema que é a melhora da relação.”

Fernanda Aranda, iG São Paulo 26/01/2010

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