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37 anos. CA de Mama em 2008. A CURA está dentro de mim.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Terapia...


A função do terapeuta é penetrar mundos únicos (e tantos) de cada pessoa que o procura pra isso: ser companheiro da jornada interna, percorrer corredores, adentrar cômodos, descobrir e aconchegar incômodos, reconhecer faces e facetas. Eu, por exemplo, sou curiosa e delicada. Sou água – sei diluir o que penetro e me misturar, de forma que integro, aprendo, cresço e me transformo com cada um dos meus diletos companheiros.

Deixo que as imagens falem, apresentem-se e vou acolhendo-as todas, garimpando, aprofundando, intimizando. Os mais temíveis monstros vão virando velhos conhecidos, habitantes de cada história, de cada dor, cada pesadelo ou cicatriz. Tornam-se sinais, marcos, personagens e mensagens reconhecíveis ao longo da vida. Membros de sua equipe, como ensinou um grande amigo ao afirmar: “Eu nunca estou sozinho – sou sempre eu e minha equipe!”. Cada aspecto interno numa função própria e importante – e todos eles juntos na grande tarefa de nos tornarmos quem realmente somos. Conhecer cada um desses personagens é tarefa da terapia.

Eros (deus da comunhão) e Mercúrio (o deus mensageiro) preenchem o espaço da sala e da alma quando estamos eu e paciente, imersos naquela hora secreta e sagrada. Sem a comunhão gerada pelo arquétipo do Amor, o trabalho não é possível, os caminhos não se abrem e o ‘des-envolvimento’ não acontece. Eros traz leveza e Mercúrio, agilidade e possibilidades de comunicação, pois ele penetra todos os mundos e domínios. Para esses deuses não existe bem nem mal – as palavras são mensagens.

Cada palavra é uma mensagem na linguagem terapêutica. Cada uma delas contém um enredo, revela um drama, uma trama. As palavras são chaves, senhas que abrem portas e nos permitem cruzar umbrais e percorrer os corredores das moradas de cada um. São imagens carregadas de significados, de personagens prontos a serem descobertos e revelados. A simples escolha desta ou daquela palavra é uma pista, um sinal que ouço atentamente na busca pelo não dito, pelo mal dito, para dar um novo significado, agregar e virar a página, mais uma página e, nossa, como é difícil virar páginas...

O terapeuta é viajante, garimpeiro, sucateiro, tradutor. Os dias nunca são iguais, ele é convidado a penetrar mundos e descobrir tesouros, aprender no imprevisto, criar no imponderável, crescer com cada paciente. Um dia, recebi de um deles um presente muito especial: ele escreveu, nos agradecimentos de sua tese de mestrado: “À Lúcia, que, ao segurar minhas pontas, me fez ver que sou uma estrela.” Então, viajo galáxias! Amém.


Sobre a Colunista

Lucia Rosenberg - luciarosenberg@ig.com.br - é psicóloga pela PUC-SP, mestre em Psicologia pela New School for Social Research em Nova York e autora do livro "Cordão Mágico - histórias de mãe e filhos".

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